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Qual o impacto do Coronavírus no seu provedor?

24 de Março de 2020

Não tem escapatória. A pandemia do novo Coronavírus que atinge o mundo inteiro em 2020 está afetando todos os setores. Desde o comércio, restaurantes, a rotina e o trabalho das pessoas e até mesmo o sistema de saúde, que fica sobrecarregado com a quantidade de casos suspeitos, de testes a serem realizados e de pacientes para tratar. Da mesma forma, acontece com as redes de internet. Com todo mundo em casa por conta da quarentena obrigatória em alguns países e voluntária em muitos casos, as pessoas passaram a acessar ainda mais a internet.

O número de pessoas acessando a internet ao mesmo tempo pode ser o maior já registrado em toda a história. Não há precedentes de algo parecido. Até porque, no tempo recente da internet não houve tantas crises de saúde pública como a que estamos vivenciando hoje. Nem gripe aviária, nem H1N1 fizeram as pessoas ficarem tanto em casa e acessarem tanto as redes sociais e os serviços de streaming. Só para se ter uma ideia, fora do Brasil o tráfego via redes IP já subiu 40% enquanto que o consumo de dados móveis cresceu 25%. E o Brasil, no fim de março, ainda nem viveu o pico da pandemia do Coronavírus.

Veja: a Itália, país que tem o maior número de mortes pela doença covid-19, causada pelo Coronavírus – mais que a China, inclusive –, foi onde o aumento registrado é de 40%. Países como a Alemanha e o Reino Unido tiveram crescimento de 10% e 20% no consumo de banda. Estudos do IX.br já mostram que houve um aumento de banda consumida e uma mudança no perfil do uso em cada horário: cresce durante a manhã, atinge um nível intermediário à tarde e explode num pico à noite. É mais ou menos parecido com o que ocorre de domingo, dia em que boa parte das pessoas está em casa ou uma final de jogos importantes transmitidos online.

O problema é simples de se entender: a demanda e o consumo subiram, consequentemente a velocidade vai cair. E a conexão também, ficando instável em muitas ocasiões. Afinal, está todo mundo sobrecarregando a internet. Então, não adianta muito oferecer pacotes, franquias ou velocidades maiores. O gargalo está na infraestrutura, que precisa se adequar à demanda e à quantidade de pessoas acessando as redes ao mesmo tempo. Os roteadores e switchs dos backbones internet não estavam dimensionados para tamanha demanda simultânea e, infelizmente, os provedores maiores com suas enorme redes legadas sobrecarregadas tem sofrido para garantir a estabilidade da rede para seus clientes.

Menos imune a isso, os provedores regionais vem sofrendo menos com está mudança de trafego, contudo são eles quem mais tem dificuldades na arquitetura da rede que está escoando o tráfego, o que, muitas vezes, não está relacionada à qualidade dos equipamentos e, sim, como eles estão na topologia da rede e quais configurações eles possuem.

Autoridades e empresas de telecomunicações no mundo estão preocupadas com essa quantidade maior de pessoas acessando os serviços de streaming. Tanto que a União Europeia pediu que as plataformas, entre elas Netflix e YouTube, reduzam a qualidade de suas transmissões de vídeos, diminuindo a qualidade de imagem padrão, para evitar prejuízos ao bom funcionamento da internet. Mesmo que na Europa existam leis de neutralidade que proíbam a limitação em serviços online de entretenimento, os órgãos acreditam que é um momento de exceção e que exige medidas excepcionais, contudo o principal motivo dos stress das redes é difícil de ser atacado, os streaming ao vivo, VoIPs e videoconferência, que não geram volume em banda passante, mais uma enorme enxurrada de pps(pacotes por segundos) que são capazes de sucumbir a capacidade de comutação dos equipamentos que formam a internet.

O conteúdo de Netflix, Google, Facebook estão em sua grande maioria em CDNs próximas aos usuários finais, sendo assim, o percurso fica mais curto onerando menos as redes, entretanto, quando a comunicação é "ao vivo”, as duas pontas precisam que a comunicação seja mantida de forma permanente e a quantidade de pacotes de dados enviados de um lado ao outro é brutalmente maior pra garantir que se perca o mínimo possível do conteúdo transmitido. 

É fácil voltar e rever qualquer parte de um vídeo de youtube ou do netflix. Mas é preciso dizer "repete por favor” quando perdemos o áudio/vídeo de alguém numa chamada.

O que a dinâmica do “homeoffice” tem feito, de fato, é levado para as redes domésticas esse estresse adicional causado por aplicações e serviços que demanda de banda do ponto A ao Ponto B, sem interrupção e sem nenhum tipo de “aproveitamento” deste trafego.

O Brasil é um país gigante e tem muita gente acessando a internet. Dados da pesquisa TIC Domicílios mostram que existem 126,9 milhões de usuários no país, o que representa 70% da população. Até existe boa interconexão na maioria dos provedores, entretanto, também há sérios problemas de rede interna, de modo especial nos provedores regionais. É um paradoxo porque os provedores regionais prestam um serviço maravilhoso aos clientes e ao país, contudo, tenho visto muitos erros de dimensionamento que irão custar caro agora e mais ainda se a quarentena demorar muito.

Nem tudo está perdido. Em que precisamos ficar atentos? Na qualidade da interconexão BGP, no aumento dos PPS e não apenas da banda, no número de assinantes por porta xPON, na capacidade dos seus equipamentos de transporte no backbone e no equipamento de CGNAT. Isso seria o básico.

 

Prof. Lacier Dias.

Professor de Arquitetura, Design e Roteamento para redes, consultor para provedores de acesso e redes corporativas. Diretor Técnico das empresas, Solintel, Moga e VLSM.

Linkedin: https://www.linkedin.com/in/lacierdias/

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